sábado, 2 de maio de 2009

Melodia de Lugar Nenhum Parte III (Dark Gero)





─ O que pode ser tão engraçado na hora da morte?
Sastu apertou com mais força ainda o pescoço de Calef, mas este ainda mantinha o sorrisinho de superioridade no rosto.
Só então Sastu percebeu a razão daquele sorriso...
Uma mancha negra viva surgiu em seus dedos, movendo-se violentamente pela sua mão e subindo braço acima. Sastu largou o pescoço de Calef, aterrorizado por saber o que aquilo significava... Calef tocou o chão novamente, apressando-se em dar um chute com força descomunal no inimigo, fazendo-o chocar-se com a parede do outro lado do labirinto. No chão, Sastu debatia-se, com a mancha negra, com o tamanho de uma palma, percorrendo seu corpo como um animal veloz. Ele tentava segurá-la, como se fosse possível parar seus movimentos. Era impossível.
─ Um estigma de breu! ─ gritou o vampiro em desespero.
─ Exato, Sastu. Coloquei um em minha nuca. Quando você me agarrou pelo pescoço, eu o ativei. Sabe como são esses estigmas, não sabe? Magia negra pura. Funcionam como armadilhas... E sabe o que essa criancinha vai fazer com você?
Claro que Sastu sabia. Por isso estava tão apavorado. Estigmas de breu são parasitas feitos de magia negra que se movimentam pelo corpo como uma mancha, indo e voltando por diversas partes do corpo com velocidade. Além de causar uma dor lancinante, se o parasita se alojar no cérebro, o hospedeiro vira um vegetal, sem possibilidades de regeneração; caso se aloje em qualquer outra parte do corpo, o hospedeiro terá uma dor eterna naquele membro, mesmo que arranque o mesmo e o regenere.
─ Não, não! Tira isso de mim! Tira isso de mim! Calef! Como se desfaz essa coisa!? Como é que se pára essa merda?
Calef já não estava mais por perto. Não precisava mais se preocupar com Sastu.


• • •
O ronronar de um gato propagava-se entre as árvores. Não era tão alto. Não para seres humanos.
Pelo menos vivos...
Uma legião de desmortos era atraída pelo barulho, como moscas atraídas pela luz. A gata cinza de olhos cor de fogo desceu da pedra em que estava e rapidamente desapareceu na escuridão; vários metros depois, escondia-se na copa de uma árvore.
Dezenas de vultos podiam ser avistados por quem estivesse naquela clareira, iluminado pela lua. Um dos desmortos, com a forma de um adolescente loiro com o rosto em decomposição mostrou-se na luz, olhando completamente surpreso para as duas figuras ali paradas. Uma estava em pé, a outra deitada no chão frio.
─ Não é possível... Rainha...?
Gil teve que ter muito sangue frio para não gaguejar.
─ Ajoelhe-se, desmorto!
─ Vossa majestade foi... despertada...?
─ Por acaso está surdo, escravo? Ajoelhe-se! ─ gritou ela apontando para o chão.
O desmorto estava confuso, mas tinha que obedecer por via das dúvidas. Seu rosto deformado regenerou-se instantaneamente, imitando o que um dia fora suas feições quando era vivo. Mesmo não sendo um desmorto real, ainda era subordinado da rainha, e sabia quão poderosa ela poderia ser.
─ Vossa majestade, perdão! ─ ele ajoelhou-se, em reverência. Os outros continuavam na penumbra, não se mostrando ainda. ─ A senhora está com a escolhida de Divarius... Ela está... morta?─ ele apontou para Bruna caída no chão.
─ Está apenas desacordada, sob efeito de feitiço.
Diga a ele que quer fazer uma troca!
Gil ouvia a voz de Perine em sua cabeça, dando-lhe as instruções de como agir.
─ Quero propor uma troca.
Com mais firmeza!
─ Não que tenha escolha, claro ─ Gil tentou ser mais sarcástica.
─ Que... Que tipo de troca?
─ Divarius quer essa menina. Se ela tornar-se mulher dele e gerarem uma criança, ela será um herdeiro supremo, capaz de destruir todos os clãs...
─ Claro, claro. São os planos de nosso mestre...
─ Muito bem. Não tenho o mínimo interesse com o meu clã. Não me interessa se vão ser destruídos ou não. Tudo o que eu quero é voltar ao meu mundo e não ser despertada nunca mais. Me acostumei com essa forma de menina, por isso nem retomei meu corpo original ainda.
─ Então vai nos entregar a garota pacificamente?
─ Eu disse “troca”, não “presente”, imbecil. Vocês terão de fazer algo por mim primeiro.
─ O que poderíamos fazer pela vossa majestade?
Vocês têm livre passagem entre os mundos...
─ Vocês têm livre passagem entre os mundos... ─ Gil repetia a voz de Perine em sua cabeça. ─ E são capazes de interferir até mesmo em uma realidade proibida, onde os emissários enviam os envolvidos em um voto proibido...
─ Sim... ─ o desmorto assentia, sem ter certeza de onde a rainha queria chegar.
E vocês, sendo desmortos de Divarius têm acesso a estigmas de breu...
─ E vocês têm acesso a estigmas de breu, não têm?
─ Claro, Majestade.
─Então os entregarei a escolhida por Divarius se vocês adentrarem o mundo de um dos emissários, encontrarem Calef e lhe entregarem alguns estigmas de Breu. E vocês devem ficar visíveis apenas para ele...
─ Só isso? Só isso e nos entrega a escolhida por Divarius?
─ Palavra de Rainha.
─ De qual emissário estamos falando?
─ O mais próximo, o da caverna a leste daqui.
─ Considere feito, rainha. Estaremos de volta em poucos minutos...
O desmorto entrou na escuridão entre as árvores e logo todas as silhuetas escondidas da luz haviam sumido. Um gato cinza pulou da copa de uma árvore, e antes que tocasse o chão já havia incrivelmente se transmutado na linda vampira Perine.
─ Eles não vão demorar.
─ Meu Deus, não acredito que fui capaz de agir daquele jeito! ─ surpreendeu-se Gil.
─ Não acredito que deu certo ─ disse Bruna levantando-se. ─ Eu nem me movi!
Perine deu um sorriso de compaixão para as duas, como se a ignorância delas sobre seu mundo desse pena.
─ Eu tenho o poder de controlar as emoções dos outros, especialmente se forem humanos, que são mais fracos. Fiz com que você ficasse o mais calma possível, Bruna, e com que você, Gil, transbordasse arrogância. Assim ficou mais fácil te dar as instruções telepaticamente.
─ E agora, o que acontece? ─ perguntou Bruna, ansiosa. ─ E quando eles voltarem?
─ Claro que não vamos te entregar pra eles, Bruna. Desmortos são fracos, posso facilmente com eles. Mas com os estigmas de breu, Calef terá muito mais chances contra os três vampiros.
─ Ainda não entendi como isso vai dar certo. Faz alguns minutos que Calef partiu. E se ele já estiver morto quando os desmortos encontrarem com ele?
─ Relaxe, Gil. O tempo em um dos mundos proibidos passa diferente dos outros mundos. É mais lento. Talvez os desmortos falem com Calef bem antes de eles começarem a luta.
─ Perine, eu não entendi uma coisa ─ disse Bruna. ─ Se a verdadeira forma de Gil não é essa e ela tem a mesma aparência do mundo em que estava, como é que todo mundo sabe de cara que ela é a rainha?
─ Ah, claro. Humanos não vêm auras. Vampiros, desmortos e várias outras criaturas das trevas vêm. A aura dos reis e rainhas são amarelas. A aura de nossa rainha é inconfundível ─ Perine olhou para Gil, dando um sorriso.
Gil olhou para o próprio corpo, sem conseguir ver nada diferente.
─ Claro que você só poderá ver o mesmo que os outros vampiros quando despertar, Gil. Enquanto isso, não tem acesso nenhum aos seus poderes.
Bruna olhou assustada ao redor:
─ E se ainda houver desmortos por perto, nos espionando? ─ sussurrou ela, sentindo o medo crescer só de imaginar.
Gil foi contagiada com o medo de Bruna. Empalideceu.
─ Não se preocupem. Eles morrem de medo da rainha desse clã. Uma rainha poderia enxergar a quilômetros de distância. Eles não se atreveriam a correr o risco de serem pegos espionando a rainha. Além do mais, palavra de rainha é incontestável. Rainhas não mentem. Caso o façam, perdem a moral perante todos os clãs.
─ Então eu...
─ Não Gil, você não perdeu a moral perante nenhum clã. Você ainda não foi despertada, é como se ainda não fosse a rainha. Só quando recuperar suas memórias e seus poderes.
Ficaram por um momento em silêncio, mas Bruna quebrou o gelo:
─ Então a gente agora vai apenas esperar?
─ E torcer pra que dê certo, querida. Esperar e torcer...


• • •


Calef sabia que se os desmortos não houvesse milagrosamente aparecido para ele e lhe entregado alguns estigmas de breu antes da luta contra Sastu ele estaria seriamente ferido naquele momento.
Claro que como o tempo passava mais devagar no labirinto, Perine devia ter pensado em algo para convencer os desmortos de Divarius a lhe entregar aquelas armadilhas de magia negra. Fora tudo muito rápido: Assim que adentrou o labirinto e começou a procurar pelos três inimigos, três desmortos haviam surgido do nada com as palmas das mãos abertas. Em cada uma delas havia algumas espécies de tatuagens pequenas e negras, em forma de símbolos. Eles se aproximaram dele e disseram apenas que tinham ido fazer uma entrega. Tocaram as mãos em seu corpo e as tatuagens passaram de suas palmas para o corpo dele. Por mais dúvidas que tivesse, sabia que aquilo era abra de Perine; Divarius não interviria em um voto proibido, então deveria ser algum tipo de plano de sua amiga. Resolveu não fazer perguntas. Os desmortos haviam sumido em seguida. Sabia como funcionavam os estigmas de breu; devia movimentá-los mentalmente para qualquer parte do corpo. Caso alguém tocasse em um deles e ele quisesse que o estigma fosse acionado, ele passaria para o corpo do adversário em sua forma agressiva de parasita.
Graças a isso derrotara facilmente Sastu.
Mas ainda tinha mais dois inimigos...
Ouviu um ruído gutural ecoando entre os corredores do labirinto. Vários outros sons surgiram de todas as partes. Sons aterrorizantes... sons de condenados...
Claro.
Quando se faz o voto proibido e se perde o direito sob as decisões dos anciões, a punição é passar a eternidade no mundo ao qual for enviado. O labirinto era um dos mundos mais escolhidos para batalhas daquele voto. E como sempre há os perdedores, durante milênios aquele labirinto foi sendo cheio de vampiros e outras criaturas que aceitaram e perderam aquele desafio...
Todos enlouquecidos... Sanguinários... Extremamente nocivos...
Kioru e Vabri já não eram uma ameaça tão grande...

(... continua...)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Melodia de Lugar Nenhum (Parte II) Dark Gero





Calef parou de mover-se velozmente entre as árvores escuras quando chegou em frente a uma grande rocha na encosta de um morro. Olhou ao redor antes de passar por uma estreita abertura de mais ou menos dois metros que havia na rocha. A escuridão tornou-se breu. Se não fossem seus olhos vermelhos e sua visão noturna, não enxergaria o caminho que levava a uma caverna em forma de salão. Pôde ver claramente as quatro figuras que já o esperavam:
─ Este foi o emissário mais próximo que encontramos ─ disse o brutamontes careca com um símbolo na testa, Sastu, apontando para o velho sentado em forma de meditação.
O velho fez um cumprimento com a cabeça. Seus olhos eram totalmente brancos. Usava um longo manto cinza muito velho. Nos braços havia inúmeras tatuagens de estranhos símbolos vampíricos.
Calef deu um breve sorriso para o velho, então olhou para cada um dos três vampiros em pé seriamente.
─ Calef, essa garota não pode valer tanto a pena assim ─ Vabri disse passando a mão pelos cabelos compridos. ─ Sabe muito bem qual será o resultado disso... Não pode contra nós três...
─ Estou a par de meus riscos, Vabri ─ Calef deu seu sorriso de atrevido destemido.
Todos odiavam quando ele agia como se fosse superior. No fundo, estavam felizes de finalmente darem um fim nele. Calef sabia que Vabri não queria fazer aquilo, mas não poderia recusar um desafio como o voto proibido.
─ Sabemos que você sabe, Calef ─ Kioru deu um passo à frente com os olhos estreitados, cintilando o vermelho-sangue. ─ Sabe muito bem que ao fazer o voto proibido deixa de ser parte de seu clã e passa a ter a responsabilidade sobre uma decisão dos anciões. E sabe que para isso tem que matar os enviados originais, no caso, nós. Desta forma, você toma para si o fardo de ser o avatar de uma das bestas...
─ Como disse, estou a par de tudo.
─ Que merda, Calef! ─ Vabri se exaltou. ─ Acha mesmo que pode com nós três? Por que trair o clã fazendo uma idiotice dessas? O que você ganha com isso?
─ Estou salvando o clã. Se aquele bando de velhos inúteis fosse realmente sábio, não precisaria estar fazendo isso. Vocês me agradecerão.
─ Suicida!
─ Quieto, Vabri ─ gritou Kioru colocando a mão em seu peito, afastando-o para trás. ─ Não há como voltar atrás da decisão! Se ele está com a rainha traidora, está contra nós. Vamos logo com isso!
O velho apenas escutava calado no chão. Levantou as mãos abertas, revelando um símbolo em cada palma.
─ Para onde? ─ o velho murmurou numa voz cansada, levemente arrastada.
─ O Labirinto ─ Kioru sorriu maliciosamente para Calef, que se mantinha indiferente.
As paredes da caverna-salão começaram a tremer, distorcendo-se. A figura do velho foi sumindo aos poucos. Em poucos segundos todos viram-se engolidos por uma escuridão que nem seus olhos vampirescos podiam enxergar.
Quando tudo voltou ao normal, estavam em outro lugar.



• • •



─ Fazer o que? ─ Gil estava embasbacada.
─ Exatamente. É a única maneira ─ Perine fez um olhar suplicante, impossível de se recusar.
─ Isso é muito arriscado... ─ Bruna murmurou, mas lembrava-se do sorriso de Calef, de seu breve contato com ele, o suficiente para marcá-la. Estava dividida entre o medo e a dúvida.
─ Sou péssima atriz ─ disse Gil tentando lembrar-se de alguma situação em que tivesse encenado.
─ Não sei me fingir de morta! ─ retrucou Bruna com o olhar desesperado para Perine.
Perine passou as mãos pelos lisos cabelos cinza, respirando fundo, então voltou a encarar as duas.
─ O Calef é um idiota, um imbecíl completo, mas ele está fazendo isso pra salvar todo mundo. Vocês não sabem a importância que têm. Ele sabe, e está disposto a dar a vida para salvá-las.
Bruna e Gil se entreolharam. Estavam confusas, com medo. O que Perine estava propondo era muito arriscado, para todas elas.
─ Aonde eles foram?
─ A alguns quilômetros daqui. Na velocidade deles, eu poderia chegar lá em poucos segundos, mas o problema é mover vocês até lá...
Gil afastou-se.
─ Tenho que pensar um pouco. Isso é arriscado demais para um estranho.
Perine quis falar algo, mas ao olhar para Bruna, mudou de idéia. A garota conhecia Calef melhor que Gil, embora a imagem que ele mostrara a ela não fosse das melhores. Era estranho fazer algo tão arriscado de uma hora para a outra, principalmente para Gil que descobrira que toda a sua vida era uma mentira criada por ela mesma.
Gil encostou-se numa árvore a alguns metros das outras duas, com as mãos no rosto, pensando...
Sua família... Seus amigos... Seus sonhos... Então tudo fora uma mentira? Ainda não havia digerido aquela idéia insana. Atirara em duas pessoas, embora nenhuma das duas fosse humana realmente. Do nada, é levada a um mundo estranho, embora fosse igual ao seu, descobre que era uma rainha de vampiros e se vê na posição de arriscar a vida para salvar um estranho. Deveria estar louca naquele momento, mas algo dentro dela a dizia que estava tudo sob controle. Não iria surtar como qualquer outra pessoa faria. Correria atrás da verdade a qualquer custo. A maneira com que Calef a havia protegido a deixara confusa. Se ele estava arriscando a vida para salvá-la, não poderia ficar de braços cruzados, por mais que fosse um completo estranho. Lembrou-se do falso Dark Gero, que segundo Calef, era um desmorto seu. Ela atirara nele e mesmo assim pedia para que ele a protegesse no leito de morte...
Tinha de decidir...


─ Eu concordo ─ Bruna disse. ─ Qualquer coisa para salvar o Calef...
Perine olhou para ela com compaixão.
─ Aquele cretino tem esse causa esse efeito, não é? Como ele consegue? ─ ela sorriu, olhando para o longe.
─ Consegue o quê?
─ Falar e agir exatamente como nós odiamos e fazer com que queiramos o bem dele a todo custo... Ele tem seu charme.
Bruna corou.
─ Não... Ele me salvou... Devo isso a ele...
Perine alargou o sorriso, olhando para ela, então.
─ Mesmo não valendo nada, o Calef é muito lindo, tenho que admitir.
Bruna teve um certo medo de comentar, mas acabou falando, temendo a resposta:
─ Você também é muito linda. E da idade dele... Vocês nunca... Digo, nada aconteceu...
─ O Calef é o último ser no universo com quem eu me envolveria. É bruto, inconveniente, estúpido, irresponsável... ─ Perine deu um arrepio de desgosto só de lembrar.
Bruna não teve como não sorrir.
─ Ele não é o maior cavalheiro do mundo... Mas você gosta muito dele. O que quer que façamos pode matar nós três.
─ Eu sei. Mas embora ele seja tudo o que eu mencionei, ele se importa mais do que todo mundo com o bem do nosso clã, e quando resolve proteger alguém, faz disso mais do que um dever. Protege essa pessoa com a própria vida... Digamos que ele seja um paradoxo ─ Perine riu, então ficou séria de repente. ─ É melhor que vocês se decidam logo. Se eu estiver certa temos mais uns dez minutos no máximo. Sorte nossa o tempo onde eles estão passar mais devagar com relação a este mundo.
─ Como assim? Eles não estão nesse mundo?
─ Quando se faz o voto negro, você tem que procurar um emissário das trevas para te enviar até uma realidade proibida. Caso você perca, fica nessa realidade para sempre. O Calef mencionou que nós vampiros só morremos se bebermos o próprio sangue?
─ Então ele não vai morrer? ─ os olhos de Bruna brilharam, esperançosos.
─ Esse destino é pior que a morte. Por isso nos referimos a ele como se fosse a própria morte.
Gil aproximou-se, cabisbaixa. As duas olharam para ela, ansiosas por sua decisão. Ela levantou os olhos vagarosamente antes de falar:
─ Aceito. Mas não garanto uma atuação perfeita.
Perine sorriu triunfante, dando duas palminhas de excitação.
─ Meninas, acreditem, ele vale a pena. Está fazendo isso por vocês também. Agora escutem... Quando os desmortos chegarem, quero que ajam exatamente como eu combinar com vocês. Provavelmente algum vampiro de Divarius virá com eles, então estarei preparada para entrar em combate a qualquer momento.
As duas assentiram.
─ Ok, então vou me transformar em gata para atrair os desmortos com meu ronronar. Escutem com atenção, vocês terão de fazer o seguinte...



• • •



Calef se viu cercado por paredes gigantes que se estendiam para os dois lados aparentemente sem fim por causa da escuridão. Vários caminhos se abriam em todas as direções. Estava no labirinto. Sabia que a partir daquele momento deveria correr e lutar ou ficar o resto da eternidade ali, preso, sozinho.
Correu para uma esquina que dava acessou a outro corredor imenso, cheio de esquinas e outros corredores. Nunca chegaria ao topo de uma parede daquelas. Ao olhar para cima, tinha a impressão de que as paredes tocavam uma na outra.
Olhou ao redor, aguçando todos os sentidos. Aquilo seria uma caçada. Vampiros adoram caçadas. Tirando Vabri, os outros dois estavam loucos para acabar com a raça dele. Calef tinha muita influência no clã, o que despertava uma certa inveja.
─ Olá, Calef! ─ a voz trovejante atrás dele não poderia pertencer a outro ser no universo.
Calef virou-se, sorrindo.
─ Virão de um por um, Sastu? Não precisam revezar, podem vir ao mesmo tempo.
O gigante careca rosnou ameaçadoramente, mostrando suas presas.
─ Nem na hora da morte vai engolir esse seu orgulho cretino? Vou fazer você implorar pra morrer!
─ Como bom cão de caça, apenas late, não é? ─ Calef provocou, deixando o sorriso estampado no rosto.
Sastu não suportava provocações. Numa velocidade impressionante, avançou sobre Calef, com a boca arreganhada. Ao chegar ao ponto de ataque, não havia ninguém.
─ Muito lento ─ disse uma voz atrás dele.
Sastu virou-se com a cólera estampada no rosto. Calef estava atrás dele.
─ Ainda mais escorregadio que antes, não? Vou quebrar todos os seus ossos!
─ Blá, blá, blá... Não dá pra pular a parte das ameaças? Isso já está enchendo o saco.
Sastu estralou os dedos das mãos, transbordando ódio pelo olhar. Avançou novamente, com o dobro da velocidade. Desta vez, conseguiu socar Calef no estômago, em seguida, num piscar de olhos, agarrando seu pescoço e levantando seu corpo do chão. Apertou com uma satisfação doentia.
Mas sua expressão de prazer mudou. Não podia ser! O que diabos havia com Calef?
Ele estava rindo...


(Continua...)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Melodia de Lugar Nenhum (Dark Gero)

Depois de muita espera, finalmente a esperada continuação. Para ver as partes anteriores, acesse http://darkgero.zip.net/ e leia os contos Melodia e Lugar Nenhum.

Boa Leitura.





Assim que os lábios dele se afastaram, ela abriu os olhos.
─ Onde estamos?
Olhou ao redor assustada, sem ter certeza se estava ou não sonhando. Não era possível! Há um segundo estava em um dos blocos da universidade, agora estava cercada de árvores...
─ Agora estamos em algum lugar ─ Calef falou com uma certa ironia, com um sorriso no rosto. ─ Vamos, majestade. Não podemos ficar aqui...
─ Pára de me chamar assim! Meu nome é Gil! Eu não vou a lugar nenhum! Eu quero saber exatamente onde estou e o que está acontecendo!
Ele deu outra risada para ela, admirando sua rebeldia.
─ Estamos no mundo real... Gil. Saímos da realidade que você criou e estamos no mundo que você abandonou há mais de dezesseis anos.
─ Do que...
Ele segurou os ombros da garota, olhando fundo em seus olhos.
─ Acredite, você vai saber de tudo em breve, assim que despertar. Agora precisamos ir ou os desmortos atacarão Bruna.
Gil teve vontade de continuar fazendo perguntas, de espernear até conseguir suas respostas, de perguntar o que diabos eram aqueles desmortos e quem era Bruna, mas resolveu ficar calada e confiar no estranho maquiado. Por mais que seu visual gótico assustasse um pouco, ele era incrivelmente bonito. Embora seus olhos fossem assustadoramente vermelhos, seu olhar transmitia uma segurança indescritível. Só não pôde deixar de fazer uma pergunta:
─ Você é... humano?
─ Não. Você também não.
─ Como não? O que somos então?
Ela preferia não ter ouvido a resposta:
─ Vampiros.
Deixou que ele segurasse sua mão e a guiasse na penumbra entre as árvores, embasbacada com o que ouvira. Vampira... Que loucura era aquela? Ela era humana! Tinha absoluta certeza...
─ Vamos logo! A transição entre os dois mundos fez com que o tempo aqui passasse mais rápido para mim. A esse momento a garota deve estar em perigo. Espero que Perine a tenha encontrado...
Os dois andaram entre as árvores por alguns segundos, até que Calef parou de repente, olhando para a direita. Parecia estar escutando algo. Gil não se atreveu a perturbá-lo com suas dúvidas.
─ Venha, logo atrás de mim. Eles estão aqui perto...
Os dois andaram com cautela para não fazer barulho. Gil não tinha idéia de qual era o motivo daquilo, mas estava com medo. Iria seguir Calef por enquanto, até decidir se ele era confiável ou não.
Pararam.
Gil ouviu uma voz feminina gritar:
─ Não vão pôr um dedo nela!
Calef avançou mais um pouco, sendo iluminado pela luz da lua que iluminava uma clareira. Ele posicionara-se ameaçadoramente, mostrando duas presas pontiagudas. Seus olhos cintilavam.
─ Ninguém toca nelas! ─ sua voz era trovejante.
Gil assustou-se com a reação dele. Quando adentrou um pouco a clareira, pôde divisar cinco vultos. Três eram homens de olhos vermelho-sangue como os de Calef, sendo um gigantesco, careca, com uma tatuagem de um símbolo na testa; um cabeludo, de jaqueta preta, e um de cabelos curtos, sem camisa, usando uma espécie de saia de couro preto aberta no meio sobre sua calça comprida da mesma cor. Estavam os três maquiados, vestidos de preto e tons escuros, como se formassem uma banda gótica, ou de rock pesado. Os outros dois vultos eram femininos: uma parecia fazer parte da “banda”, com estranhos cabelos cinza e roupas pretas com detalhes verde-escuros, a outra, era uma garota mais ou menos da sua idade. Vestia-se normalmente, e estava sendo protegida pela de cabelos cinza.
─ Calef! ─ gritaram as duas virando-se na direção em que chegavam.
O de saia olhou para Gil com os olhos arregalados.
─ Rainha!?
─ Dêem mais um passo e vou arrancar a cabeça de vocês com os dentes! – trovejou Calef dando mais um passo à frente.
─ São ordens dos anciões, Calef! ─ gritou o careca.
─ Não se intrometa! ─ disse o de cabelos compridos também em posição de ataque.
Gil escondeu-se atrás de Calef, sem nenhuma dúvida de que aqueles seres não eram nem de longe humanos. Como ele dissera-lhe, eram vampiros...
─ A rainha está comigo! Os velhos não têm mais poder de decisão!
─ Esta não pode ser nossa rainha! Ela nos abandonou! ─ o de saia gritara, posicionando-se à frente dos outros dois.
─ Essa garota que vocês querem matar é a única que pode despertar a rainha! ─ Calef apontava para a garota no chão atrás da outra de preto. ─ Se a matarem, Divarius será o menor de nossos problemas!
Os três estranhos entreolharam-se hesitantes. Calef apressou-se em continuar:
─ Faço o voto proibido nesse momento!
─ Calef! ─ gritou a de cabelos cinza. ─ Você não pode fazer isso!
O de saia olhou para os outros dois com os olhos estreitados, então os fixou em Calef.
─ Sabe que não pode voltar atrás...
─ Conheço bem as regras, Kioru.
─ Calef! ─ a de cabelos cinza repetiu com os olhos suplicantes.
─ Já está feito ─ o de cabelos compridos falou virando-se. ─ Está em suas mãos agora, Calef. Ela deve valer mesmo a pena para você fazer uma loucura destas...
Os outros dois deram uma longa olhada para Gil, num misto de desprezo e medo. Seguiram o de cabelos compridos e desapareceram na escuridão.
Calef suspirou. Aproximou-se das duas, sendo seguido por Gil.
─ Seu idiota! Como pode fazer uma coisa dessas? ─ revoltara-se a de cabelos cinza. Ela era jovem e linda. Tinha uma beleza única, incrível. Seu corpo era perfeito, bem delineado. Sua raiva com Calef só a deixava mais linda.
Calef, porém não estava ligando muito para os gritos da de preto. Olhava com um estranho sorriso para a outra garota, que o olhava com uma satisfação imensa, porém, escondida atrás de um simples sorriso.
─ Gil, esta é Bruna, a garota responsável por seu despertar. Essa histérica de cabelos brancos é Perine ─ ele deu um sorriso provocativo para ela.
─ Histérica? Você acabou de fazer uma loucura, seu idiota!
─ Garotas ─ Calef deu um sorriso maroto para Gil e Bruna. ─ Esperem um momento, preciso conversar um pouco com a Perine ─ afastaram-se um pouco, conversando um pouco mais baixo agora.
Gil trocou um olhar com Bruna, e as duas sorriram uma para a outra. Gil estava satisfeita em ver alguém de sua idade, que se vestisse normalmente e não tivesse olhos vermelhos ou presas.

• • •

Bruna sorria para Gil com um alívio momentâneo. Pelo menos havia mais alguém ali que não fazia parte daquela conspiração toda em que ela se enfiou. Bem, pelo menos não completamente. Se aquela garota era mesmo a rainha que Perine havia citado, em breve ela despertaria e descobriria toda a verdade. Só não entendia por que Calef havia dito aos vampiros que ela era a única capaz de despertá-la...
─ Oi ─ disse timidamente para a garota de óculos.
─ Oi ─ Gil estendeu a mão com a mesma timidez que Bruna. ─ Meu nome é Gil...
─ Bruna ─ apresentou-se Bruna sorrindo. Sem perceber, havia mesmo começado a aceitar aquela realidade estranha com mais naturalidade.
─ Eles são... ─ Gil apontou para os dois vampiros discutindo ao longe. Calef com um sorrisinho calmo no rosto, Perine gesticulando como louca. ─ Namorados ou algo assim?
─ Não, não... ─ Bruna sorriu lembrando-se de como Calef gargalhara quando ela fizera a mesma pergunta.
─ E você...?
Bruna corou imediatamente.
─ Não, não! Conheci-o ontem. Ele me salvou até que eu encontrasse a Perine... ─ percebeu o motivo de ter se envergonhado com a pergunta. Não conseguira esconder a satisfação de reencontrar-se com Calef. Notara só então o quanto sentira a falta dele...
O olhar de Gil estava com o olhar triste, com um turbilhão de emoções explodindo dentro dela. Bruna entendia muito bem; era daquela forma que ela se sentira quando fora apresentada àquele mundo estranho e surreal. Tocou o ombro de Gil com um sorriso consolador:
─ Tudo vai ficar bem. Eles vão proteger a gente... Em breve estaremos com nossas famílias e isso será uma lembrança pra vida inteira ─ surpreendeu-se ao falar aquilo. Ver outra pessoa na mesma situação que ela a fez mostrar seu lado mais esperançoso.
Gil retribuiu o sorriso, mas não estava calma.
─ Acontece que ele me disse que minha família não é real, que eu sou uma... Uma rainha deles... Que eu sou uma vampira!
─ Não temos escolha a não ser confiar neles. Você viu como eles nos protegeram, não viu? Não vão deixar que nada nos aconteça...
─ Não posso confiar em ninguém... Me desculpa, mas nem mesmo em você. Estou muito confusa... ─ Gil lembrava-se de como quase enlouquecera sem saber se confiava em Alex ou no seu amigo virtual Dark Gero. Decepcionara-se com os dois...
Bruna nada pôde falar para argumentar. Pelo menos Gil estava sendo sincera. Bruna não confiava realmente que tudo ficaria bem, ela apenas esperava que sim. Era sua esperança que a fazia seguir em frente, não sua confiança. Mas havia outra coisa perturbando sua mente. O que um dos vampiros falara... “Ela deve valer mesmo a pena para você fazer uma loucura destas...”. A quem ele se referia? A ela ou a Gil? E do que se tratava? O que era aquele voto proibido que deixara Perine tão brava e assustada? Sentiu o coração apertar.
Perine aproximou-se agora com uma expressão assustada. Calef havia desaparecido.
─ Não consegui convencer aquele idiota!
Gil e Bruna se entreolharam intrigadas.
─ Do que está falando, Perine?
─ Escutem bem: Ele me pediu para cuidar de vocês e levá-las o mais longe possível do clã.
─ Por quê? ─ perguntou Gil.
─ Ele fez o voto proibido! Sabe que não tem chances, por isso me pediu para salvar vocês...
─ O que é esse voto proibido, Perine? Do que está falando?
Perine olhou Bruna e Gil nos olhos tristemente.
─ Praticamente suicídio. Quando um vampiro faz o voto proibido, ele toma para si a responsabilidade sobre as ordens de outros vampiros, se essas ordens vierem da rainha ou dos anciões...
─ Suicídio...? ─ a voz de Bruna saía num fio.
─ Sim. Para que o voto tenha validade, para que ele próprio tome a decisão que quiser, ele tem que travar uma batalha contra os vampiros que têm as ordens. Uma batalha até a morte, meninas...
Bruna e Gil arregalaram os olhos.
─ Ele quer vocês salvas, por isso fez o voto. Não que ele consiga deter os três, pois isso é impossível... Ele quis nos dar tempo... Quer que fujamos para o mais longe possível! Está indo atrás dos outros vampiros atrás de um local para a batalha...
Bruna levou a mão à boca. Ele daria a vida por elas? Ou por uma delas... Talvez a rainha... Não conseguia nem pensar na idéia de Calef morrer, por mais que não o conhecesse direito... Olhou para Gil. Ela estava olhando para o chão, lembrando de algo dolorosamente...
Gil se lembrava da promessa que Calef havia feito ao falso Dark Gero, que segundo Calef, era seu desmorto. Não sabia ao certo se Calef estava partindo para a morte por causa dela, por acreditar que ela era realmente uma rainha, ou para proteger Bruna, por algum motivo que desconhecia... Mas um ato daqueles a fez sentir-se terrivelmente responsável.
─ Perine... ─ sussurrou, olhando para cima. ─ Não há nada que possamos fazer?
─ Qualquer coisa! ─ disse Bruna com os olhos suplicantes.
Perine surpreendeu-se com a atitude das garotas de querer salvar Calef, e era exatamente o que queria. Em nenhuma hipótese fugiria e o deixaria para trás.
─ Na verdade há uma maneira...

(Continua...)

terça-feira, 23 de setembro de 2008


Clic!
Ele abriu os olhos que apertara com todas as forças, afastando a arma da cabeça. Suspirou fundo. Discou outro número. Era o de seu ex-melhor amigo, O Bruno. Sim, ele iria convencê-lo a parar.
- Alô? Bruno?
- Miguel?
- Sim, sou eu. Como vai, amigo?
- Você tem a cara de pau de ligar pra mim, seu filho da puta!?
- Eu só queria saber como você está, cara...
- Estou ótino, claro. Como não estaria? Você comeu minha namorada, a mulher que eu amava no dia em que ia pedí-la em casamento. Como poderia estar mais feliz?
- Olha, desculpa, eu só queria...
- Foda-se, seu cretino! - desligou.
Miguel bauxou o olhar, olhando mais uma vez para o revólver em sua mão. Mais uma ligação que falhara; mais uma vez que o gatilho seria apertado. Girou o tambor e fechou novamente os olhos com força.
Clic!
Maldição. Ainda estava vivo. Significava que ainda teria outra ligação a fazer. Alguém que o dissesse algo que o fizesse mudar de idéia e não estourar os miolos. Quem dessa ves? Quem...?
Ana! Sua ex-namorada. Ela era meiga e sempre dizia coisas positivas. Sim...
Discou.
- Ana?
- Miguel?
- Oi, querida?
- Querida o caralho, seu doente! - ela mudou drásticamente numa fração de segundos. - O que você quer ligando pra mim?
- Eu precisava falar com você... Você era a única pessoa que me entendia...
- Quem vai entender um lixo como você? O que você fez não tem perdão! Se é isso que você quer, perdeu seu tempo! Pra mim você não passa de um merda despresível! - ela começara a chorar. Desligou.
Miguel ficou ouvindo o barulhinho da ligação encerrada, mas sua mente estava distante. Só havia uma bala no revólver, mas cinco chances de ele não levar o tiro. O destino teria de decidir, mas parecia estar brincando com ele. Estava ligando para as pessoas que mais amava na vida e que um dia significou algo. As únicas pessoas às quais ele faria falta. Pelo visto, estava errado. Para cada ligação falha, era uma rodada da Roleta Russa. Estava sobrevivendo só para descobrir que ninguém mais se importava com ele.
Bem, perdera mais uma rodada. Era hora de jogar.
Tocou o cano frio na testa.
Clic!
Seria possível? Era a quarta tentativa. A bala ainda não fora sorteada. Seria uma aviso divino, um sinal de que ele deveria continuar, ou apenas uma penitência antes de jogá-lo no inferno?
Mais um número. Sua mãe.
- Alô, mãe?
- O que você quer? - perguntou asperamente.
- Falar com você, mãe. Pedir perdão.
- Vá pro inferno! Está brincando comigo? Esqueça que sou sua mãe!
- Não posso, mãe. Eu te amo!
- Ama uma ova! Você nunca me disse isso na vida, só me fez sofrer por sua causa! Eu te odeio! Minha vida seria mais fácil se você não tivesse nascido! Maldita hora em que conheci seu pai!
Desligou.
Miguel sabia que merecia aquilo tudo, mas era um choque ouvir. Durante sua vida inteira, foi destruindo os laços que ele mesmo criara. Estragara tudo sempre. Merecia morrer. Mais que qualquer ser humano.
Colocou o cano no céu da boca.
Bateram na porta.
- Miguel?
Conhecia aquela voz. Não se moveu nem um centímetro.
- Miguel! Está tudo bem, abra a porta.
Quem poderia ser lá fora? Reconhecia aquela voz...
- Miguel, por favor! Abra a porta!
Era sua vez de jogar...
A porta veio abaixo com um estrondo. O homem entrou com uma expressçao de horror no rosto.
- Filho, pelo amor de Deus, o que você fez?
Miguel olhou para a arma em sua mão. Só agora notara que suas mãos estavam sujas de sangue. Segurava um telefone de brinquedo. Como viera parar alí? No chão, estavam caídos três corpos ensangüentados. Bruno, Ana e sua mãe. O homem à sua frente estava trêmulo, descontrolado.
- Você enlouqueceu! Maldito seja! Oh, Deus! - agachou-se sobre o corpo de sua mulher, mãe de Miguel.
- Oh, pai! Você não atendeu à minha ligação! Eu quase morro por isso!
- Maldito!
Miguel atirou. Em cheio, na testa do pai. Os quatro corpos ficaram empilhados no meio da sala. Miguel discou um número no seu celular de brinquedo.
- Alô, pai? Sou eu, Miguel! Liguei pra te agradecer. Eu quase faço uma besteira comigo mesmo! Tá... também te amo! Adeus!
Jogou a arma no chão.
Estava com sono. Foi para o quarto.

...